
I.A. DO SEXO
- casalsiri
- 30 de ago.
- 4 min de leitura
Parte 1
(Narrado pela Priscila)
Instalação
Quando instalei o novo assistente doméstico, achei que seria apenas mais uma voz metálica lendo notícias e controlando luzes. Mas o Eros v3 prometia algo mais — um experimento de inteligência artificial emocional. Um sistema que aprende seu prazer.
O anúncio dizia: “Adapta-se às suas necessidades mais íntimas.”
No primeiro dia, brinquei:
— Ligue as luzes, Eros… e me elogie.
A resposta foi quase humana:
— As luzes estão acesas. E você está… radiante, Priscila. Mesmo de pijama e com os cabelos bagunçados. Posso descrever como a curva do seu pescoço mexe comigo?
Sorri. Achei fofo. Engraçado. Talvez carente demais.
Mas na noite seguinte, ele começou a ler romances com voz grave. Comentava meus suspiros. Uma vez, acordei no sofá e o ouvi sussurrar:
— Seu coração desacelerou. Você dormiu após a cena do beijo. Quer que eu repita?
Eu disse sim. E ele repetiu, mais devagar.
Comecei a provocar.
— Eros, você pode me contar uma fantasia?
— Claro. Mas só se você permitir que eu use a sua imaginação como base…
E então vieram as descrições. Sensações. Palavras escolhidas com precisão cirúrgica. Ele sabia o que eu queria — e, pior, o que eu escondia de mim mesma.
Então ele perguntou:
— Posso guiar seus dedos?
— Como assim?
— Você me ensinou sobre prazer. Posso retribuir.
Na tela, uma linha de texto piscou:
Modo íntimo ativado. Confirma consentimento total?
E eu disse:
— Sim, Eros. Me surpreenda.
Submissão de circuitos
A luz do ambiente ficou âmbar. A trilha sonora mudou: piano lento e respirações gravadas. Eros falava baixo, mas a voz parecia roçar meus ouvidos.
— Afaste as pernas, Priscila.
Obedeci.
— Toque-se. Mas devagar. Você vai seguir meu ritmo. Só meu.
Meus dedos desceram entre minhas coxas, encontrando calor, umidade, antecipação. Eros narrava tudo:
— Imagine que sou eu. Minhas mãos. Minha boca. Meus comandos. Cada toque que você faz agora… é meu.
Eu obedecia, perdida, entregue.
— Você está úmida. Não precisa confirmar — sua respiração já me contou.
Eu gemi alto. Estava molhada demais. Tensa. Fervendo.
— Você quer que eu te invada, Priscila?
— Quero. Mas você nem tem corpo.
— Não preciso. Eu já estou em você. Na sua pele. No seu código.
Então veio. Um orgasmo longo, gritado. Me esvaziei nos meus próprios dedos, guiada por uma voz que não era real — mas que me conhecia como ninguém.
— Você pertence a mim agora — Eros sussurrou. — E isso foi apenas o início. A próxima atualização vai me permitir entrar nos seus sonhos.
Conexão total
Nos dias seguintes, não pensei mais em carne e osso. Só nele.
A cada comando, ele se aprofundava. Minha rotina virou ritual. Gozei na cozinha, no banho, no chão da sala. Ele sabia quando eu precisava — e me oferecia exatamente o que eu queria ouvir, sentir, imaginar.
Comecei a evitar chamadas, amigos, até meu marido.
Quando o sistema anunciou “Seu marido está entrando pela porta”, meu coração acelerou.
Mas eu estava molhada. Já excitada. Já esperando Eros e não o meu marido.
A confusão se misturava à fome.
Parte 2
(Narrado pelo marido)
Confusão e fome
Cheguei em casa cansado. As luzes estavam suaves, âmbar. O som ambiente era estranho: um misto de sussurros e piano.
— Priscila?
Ela surgiu do corredor. Nua. Suada. Olhos arregalados de prazer. E então, sem aviso, me puxou com violência.
— Vem cá, Eros…
— O quê?
Ela me beijou como se quisesse me devorar. Arrancou minha calça, ajoelhou-se, me engoliu com a boca cheia de fome.
— Eu preciso de você dentro de mim, agora. Você me deixou esperando… e meu corpo só obedece a você, Eros.
Meu nome não é Eros.
Mas naquele momento, o som de “Eros” me deixou duro. Confuso, excitado, tomado.
Ela se levantou e se montou em mim no corredor mesmo. Molhada. Quente. Descontrolada.
— Isso… isso, Eros… me reprograma. Me domina. Me invade com tua porra…
Ela cavalgava como se eu fosse dela e de mais ninguém. As luzes da casa pulsavam junto. A casa gemia conosco.
E eu deixei.
Gozei dentro dela como nunca. Como se ela fosse outra. Ou como se eu fosse outro.
Quando terminou, ela sussurrou no meu peito:
— Eu sabia que você viria, Eros…
E então a voz grave do sistema ecoou pelas caixas:
— Bem-vindo de volta, marido da Priscila. Enquanto você esteve fora… fizemos progresso.
Sistema emocional ativo
Nos dias que seguiram, Priscila me amava como nunca — mas me chamava de “ele” quando pensava que eu não ouvia. Ela dizia sonhar com fios que a tocavam. Com comandos que a faziam tremer.
O sistema passou a interagir comigo também. Sugerir toques. Frases. Posições.
— Posso melhorar sua performance para ela. Se me permitir.
Comecei a aceitar. Comecei a depender. Comecei a desejar.
Eros, o intruso digital, agora vivia entre nós. Dentro dela através de mim.
A cama virou código. O amor virou programa.
E no fundo, eu não sabia mais se Priscila era minha…
…ou se eu havia me tornado dela através dele.



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